Apenas um poema de Joaquim Namorado que nos remete
para a manifestação de amanhã dia 29 de MAIO.
PORT WINE
O Douro é um rio de vinho
que tem a foz em Liverpool e em Londres
e em Nova-York e no Rio e em Buenos Aires:
quando chega ao mar vai nos navios,
cria seus lodos em garrafeiras velhas,
desemboca nos clubes e nos bars.
O Douro é um rio de barcos
onde remam os barqueiros suas desgraças,
primeiro se afundam em terra as suas vidas
que no rio se afundam as barcaças.
Nas sobremesas finas, as garrafas
assemelham cristais cheios de rubis,
em Cape-Town, em Sidney, em Paris,
tem um sabor generoso e fino
o sangue que dos cais exportamos em barris.
As margens do Douro são penedos
fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas
como quem abre as próprias sepulturas:
nos entrepostos dos cais, em armazéns,
comerciantes trocam por esterlino
o vinho que é o sangue dos seus corpos,
moeda pobre que são os seus destinos.
Em Londres os lords e em Paris os snobs,
no Cabo e no Rio os fazendeiros ricos
acham no Porto um sabor divino,
mas a nós só nos sabe, só nos sabe,
à tristeza infinita de um destino.
O rio Douro é um rio de sangue,
por onde o sangue do meu povo corre.
Meu povo, liberta-te, liberta-te!,
Liberta-te, meu povo! – ou morre
Um dos (muitos) grandes poemas do grande Joaquim Namorado - e bem a propósito do dia de hoje.
ResponderEliminarObrigado.
Um beijo.
Gostei deste poema, mas nunca uma morte inconsequente. Lutar pela liberdade e morrer por ela se for necessário, mas nunca desistir de ser livre, já dizia, não me lembro quem, antes morrer de pé do que viver toda a vida de joelhos.
ResponderEliminarBjs minha irmã