BOAS VINDAS


Este é um blogue modesto mas, com ele, pretendo homenagear personagens e ideais que me fascinam




quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

PRESÉPIO



Nasceu.
Foi numa cama de folhelho,
entre lençóis de estopa suja,
num pardieiro velho.
Trinta horas depois a mãe pegou na enxada
e foi roçar nas bordas dos caminhos
manadas de ervas
para a ovelha triste.
E a criança ficou no pardieiro
só com o fumo negro das paredes
e o crepitar do fogo,
enroscada num cesto vindimeiro,
que não havia berço
naquela casa.
E ninguém conta a história do menino
que não teve
nem magos a adorá-lo,
nem vacas a aquecê-lo,
mas que há-de ter
muitos Reis da Judeia a persegui-lo;
que não terá coroa de espinhos
mas coroa de baionetas,
postas até ao fundo
do seu corpo.
Ninguém há-de contar a história do menino.
Ninguém lhe vai chamar o Salvador do Mundo.

Álvaro Feijó, “Diário de Bordo”, in Alexandre Pinheiro Torres

2 comentários:

  1. Álvaro Feijó: tão esquecido, tão silenciado...(eles bem sabem porquê)

    Um beijo.

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  2. Felizmente ainda há quem conte, sim...

    Abreijo.

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