Há dias fui ver o filme "O homem duplicado" filme de que gostei bastante pois , na minha opinião , nos dá conta da dificuldade de, neste mundo e com esta política que nos sufoca, ser impossível construir a vida que imaginamos para nós, o que nos leva a delírios muito bem retratados na história que nos é apresentada.
No entanto não é do filme que eu quero falar mas sim da minha grande falta por num blog que se propõe homenagear personalidades e ideais que me fascinam, ter tão pouco falado ainda do nosso grande Saramago.
Não sou crítica literária e,para além disso,sinto-me pouco fluente na apresentação daquilo que penso. Mas, em poucas palavras, vou tentar dizer porque gosto de Saramago. Começo por me referir à sua original maneira de escrever que, a meu ver, não corresponde à não existência da pontuação adequada. Acho que os pontos e vírgulas estão no lugar certo. Marcam um momento, uma mudança de interlucotor, uma nova ideia e pelo menos para mim isso funciona como se a conversa fosse connosco. Já me aconteceu estar a ler um livro e, de repente, sentir-me envolvida na ação. Analisa minuciosamente o mundo real e as pessoas dominadas pelas incertezas, os condicionalismos da vida e a sua incapacidade de ultrapassar situações pelo peso das ideias feitas dominantes. Mas também nos mostra os fortes, os coerentes como, por exemplo em "Levantados do chão". E depois dá-nos a liberdade de tirarmos as nossas próprias conclusões. Não é peremptório. Não dá sentenças.Mas é explícito e apresenta-nos um enorme campo de visão. E agora me lembro do "Ensaio sobre a cegueira" donde concluí que na terra de cegos quem tem um olho" não é rei" o que confirmei depois no "Ensaio sobre a lucidez". E também nesses dois admiráveis livros se põe em evidência o que a carência de meios materiais e a pobreza intelectual comandada pela informação mentirosa pode fazer de um ser humano. Pode transformá-lo num monstro. Outra grande recordação que me ficou foi o respeito pela privacidade das pessoas. É extraordinária a atitude de Blimunda, na obra prima que é o Memorial do Covento, que recusa olhar para Sete-Sóis, antes de comer o seu pão que evitava que ela penetrasse na mente das pessoas. E tantas mais coisas havia a dizer, mas eu queria apenas aqui deixar um pequeno texto que expressasse a minha admiração por SARAMAGO. Para mim, ler Saramago é viver a história como um personagem e apoiar ou discordar das atitudes porque nós estamos lá. Agora ando a ler "O homem Duplicado", um dos livros de Saramago que me faltava ler. Mas ainda não cheguei à fase de o poder comparar com o filme.